O meu pai fazia vinho. Hoje faço o meu. Naquele tempo, era tudo esmagado a pé. A gente tinha que o esmagar bem. Quando aquelas dornas estavam cheias, a gente tirava as calças e ia lá para dentro quase em pelotas. Às vezes, os cachos estavam gelados. A gente lá metido dentro daquele vinho com os pés... Ainda hoje há tanques desses. Há cooperativas que ainda usam esmagar a pé. Mas hoje já há esmagadores. É uma maravilha. Fica mais esmagado, porque o vinho é muito e, com os pés, o bago foge. A gente não os consegue apanhar bem. E ali não. Ali, quanto se põe, quanto se esmaga. Fica tudo esmagado.
Também faço aguardente no alambique. A gente enche o alambique com o cardaço do vinho. Tira o vinho, fica o cardaço. Barra-se com barro em volta da cabeça, por cima. Agora, a minha, faço-a a gás. Já há três anos. Comprei um fogão próprio a gás do industrial. Mete-se debaixo do alambique e apoia-se em cima. No fim de estar a ferver e começar a deitar aguardente, a gente regula-lhe o lume tal e qual que se regula uma panela num fogão, igualzinho. Um gajo pode dormir um sono, pode estar descansado. Não é preciso lá estar mais a olhar para aquilo. É mais fácil e dá menos trabalho. Também já não posso trabalhar muito, que já estou cansado. Com a outra de lenha, a gente, ora agora põe um pau, deita muito. Se lhe tiramos, começa a botar menos. E ali é certinho. Aquilo, de fora, tem uma serpentina com a água. Há o tubo que sai do alambique ligado à serpentina. A água está sempre a correr e a aguardente passa por dentro do tubo que está dentro da água que é para sair fria para o cântaro. Sai aquela bicazinha sempre certa. É assim que se faz. Faço-a e não a bebo. Aguardente para mim, não. O meu pai, que Deus tem, fazia-a e bem. Sabia fazer aguardente, mas nunca o vi beber. Nunca bebeu aguardente, aquele homem. Eu também não. É coisa que não me faz falta nenhuma. Depois, uma vende-se, outra dá-se, outra deixa-se estar em casa.