Nunca fui à escola. Nunca entrei numa escola. Não me deixavam. Não me mandavam. Mas havia professoras. Naquele tempo, que eu me criei, havia aí 90 e tal alunos. Nunca dei conta que cá viesse a professora falar com o meu pai ou a minha mãe. Era só mais um... Eu saí daqui da terra com os meus pais, que foram tratar dumas fazendas ali para o lado da Covilhã. Saí daqui com 5 anos, vim de lá com 11. Esse tempo que havia de andar na escola, andava lá a guardar as cabras. Por isso, nunca fui a uma escola. Ao fim, o tempo foi-se passando. Os meus pais queriam era trabalho feito. Não se lembravam da escola. Os anos foram-se passando, foram-se passando e eu assim fiquei. Tinha pena de não ir à escola. Via os outros miúdos lá e eu andava aí a trabalhar como um galego. Depois fez falta. Então não fez? Fez sempre. O saber ler faz sempre muita falta. Hoje, tenho pena de não saber. Já se passou muitas coisas comigo. Já andei em negócio, já fiz de tudo. Sei que o saber ler faz muita falta. Naquela altura, a gente queria lá saber daquilo para alguma coisa. Não se lembrava de nada. Depois, chega uma certa altura que a gente vê que as coisas fazem falta. Foi o que me aconteceu a mim.
A escola, no meu tempo, era lá em cima onde está aquele coiso das gravuras. Acabaram-se os alunos, a escola esteve ali até que os telhados caíram para dentro. Por fim, deram ou venderam aquilo à Câmara. A Câmara é que fez lá esse trabalho. As quintas deste e daquele lado de lá era para aqui, para cima, para a escola que vinham. Já desatava do rio para este lado, já pertenciam a esta escola aqui de Chãs d'Égua. Foz d'Égua já era para o Piódão, porque era do rio para lá. No Piódão havia uma e aqui havia outra. Naquele tempo era assim.