No ano da fome, da miséria - andava eu de 7 para 8 anos -, nunca se passou fome em casa. Foi um ano de sequeira. Andavam a transportar aí o milho de noite. Iam buscá-lo a Pomares, Sobral Magro, Soito da Ruiva, de noite, nuns machos. Atravessavam no Piódão, carregados de cereais, tinham que lhes pôr umas serapilheiras nas ferraduras para não fazerem barulho. Senão, eram presos, ainda por cima. Era contrabando. Tinha que ser. Não deixavam circular as coisas, naquele tempo. Uma pessoa queria 1 quilo de açúcar, só lhe davam meio quilo. Queria 1 quilo disto ou daquilo, só lhe davam metade. Naquele tempo era assim. A vida era assim.