As casas que estão aqui, quando eu começo a abrir os olhos, já estava tudo feito. Agora, foram reparadas algumas.
Quando eu nasci, quando eu me começo a lembrar, havia aqui nesta quintarola cinco moradores. Mas em Chãs d'Égua havia muita gente. Havia casais que tinham três filhos. Outros tinham quatro. Outros tinham dois. No tempo em que eu me criei, havia aqui muita mocidade nova. Muita raparigada nova. Eles é que baptizaram cá a quinta a Ilha da Madeira. Por isso, a gente agora diz que é a Ilha da Madeira. Ficou aí, nunca mais se passou. Nunca mais se foi o nome. Às vezes, a mim, dizem-me lá em cima:
- “Olha, aí vem o Zé da Ilha da Madeira!”
A terra agora é muito diferente. Naquele tempo, era capaz de ser melhor que agora. As pessoas entendiam-se melhor umas às outras. Não havia guerras. Novos e velhos, tudo comia, tudo bebia, tudo brincava. Eram mais humildes. Agora, não são. É tudo mais soberbo que no outro tempo.
Gosto daqui. Tenho cá o que é meu, tenho cá tudo. Fui criado aqui. Antes quero estar aqui que lá em cima. No Verão, a gente passa aqui uma vida desgraçada com o calor. Faz muito calor. Dá aqui o sol de manhã até à noite. No Inverno, aqui é mais quente que lá em cima. Estamos melhor. Lá em cima não dá sol e aqui dá. Por isso é que eu gosto de estar aqui. Tenho lá em cima onde estar, mas eu antes quero estar aqui.