O Natal era a altura das filhoses também. Filhoses com fartura e com mel. Quentinhas, quando saem do óleo pôr o mel em cima... Então no Inverno é que sabia bem aquelas filhoses quentinhas com mel. Era uns a fazer e outros a comer. Agora é peru, é cabritos. Mas antigamente era diferente. Era uns dias diferentes. Fosse lá o que fosse lá se arranjava para se comer alguma coisa diferente. As pessoas juntavam-se na véspera do Natal. Em qualquer lado faziam uma fogueira. Havia muita gente. E, nessa altura, não havia dinheiro para prendas. Agora é prendas e mais prendas. Naquela altura era pouco ou nada. Quando o meu pai vinha da Panasqueira trazia um dinheiro amarelinho. Chamavam os tostões. Às vezes dava-nos algum, até “relumbrava”. E dizia assim:
- “Este como foi agora acabado de fazer...”
E dava-me aquele dinheiro, de miúda. E ia fazendo o meu mealheiro. O dinheiro era tão bonito que até “relumbrava”. Aquilo tinha sido acabado de fazer. O meu pai, à noite, quando ele cá estava da Panasqueira, sentava-se, numa tábua e os outros sentavam-se nos bancos em volta da lareira. E dizia ele assim:
- “Anda para aqui para o meu colo ou sentas-te aqui num banco ao pé de mim.”
Eu punha um banco pequeno entre as pernas dele e sentava-me. Ele gostava muito de passar as mãos pelo meu cabelo. Eu tinha um cabelo muito comprido. Ele a passar as mãos pelo cabelo... Quando ele vinha da Panasqueira ia logo esperá-lo. Eram as saudades. Mas já tudo acabou, infelizmente.