Eu tinha de estar às nove horas lá em cima na escola, mas eu ainda ia ao mato primeiro. Às vezes diziam assim:
- “Ah é para dar aos coelhos!”
A minha mãe tirava o avental e atava o mato no avental e eu trazia. Vinha-me embora, chegava a casa e dizia a minha avó:
- “Ai que tu só agora vens e os de Foz d'Égua há muito tempo que passaram.”
Dizia eu assim:
- Ah eu se calhar ainda chego antes que eles.
E chegava porque eles iam devagar e eu já com aquela coisa ia à pressa. E era mais difícil. Não havia estrada. Sempre pelos caminhos, a chover. Eu chegava lá sempre a tempo. Levava para aí uma hora ou mais, e bem afiada. Nesses dias, quando ia ao mato, a minha avó já tinha o café numa tigela. Mas eram tigelas grandes. Tinha um pão já na tigela com o café para eu comer mais depressa. E já tinha a merenda arranjada. O que levava mais era batatas fritas, às rodelas muito fininhas. No fim das batatas estarem quase fritas, às vezes um bocadinho de lombo e ela lá batia dois ovos mexidos. Quando as batatas estavam fritas punha por cima, mexia aquilo tudo, era um petisco. Ainda hei-de cá fazer. Já disse para os meus. Mas é com azeite, que era à antiga. Agora é tudo com óleo, mas tem de ser com azeite, que antigamente não havia óleo. Com a pressa, às vezes esquecia-me a merenda. Um dia, voltei para trás, mas já a minha mãe ia pelo caminho para me levar, que eu ia depressa. São coisas que nunca esquecem e se for preciso o que fiz ontem já não me lembro.