O meu pai era António Paulo Fontinha. Trabalhava de pedreiro nas Minas da Panasqueira. Pedreiro é fazer paredes, assentar pedra para segurar a rocha por cima, para não desabar.
Não vinha a casa todos os dias. Ia no domingo à tarde e vinha no sábado à tarde. Ficava lá toda a semana, porque era muito longe. Eram três horas de caminho.
Quando o pai vinha era uma alegria. Quando ele chegava, a gente abraçava-se a ele, beijava-o, ele beijava a gente. Era um pai amoroso. Isso não podia ser melhor.
A minha mãe chamava-se Maria dos Anjos. Trabalhava na agricultura e reparava pela gente. A mãe também era amorosa. Pode haver pessoas boas, mas melhor que o meu pai e que a minha mãe não podia haver.
Nós éramos oito irmãos. Nunca foi preciso bater a filho nenhum. Só a palavra do meu pai chegava. Não era preciso mais nada. A gente guardava-lhe um respeito como havia de ser, a 100 por cento. E é assim que se dá educação em condições a um filho. Não é a bater. Acho que a palavra é melhor do que estar a bater num filho. Nunca levei. Nem da minha mãe, nem do meu pai. Nada. Não tenho nada que dizer. Éramos cinco rapazes e três raparigas. Eu sou chegado às duas irmãs mais novas.
A minha avó ainda viveu aqui. Do meu avô, já não me lembra dele. Falecera. A minha avó é que viveu ainda muitos anos com a gente. Era a Ana do Romão. Era uma mulher... Jesus. Isso não podia haver melhor. Era tal e qual como se fosse a minha mãe, para a gente não havia melhor. Era uma pessoa muito boa.
A minha avó também trabalhava, às vezes, mas ficava mais em casa com a gente, com os mais novos. E a minha mãe andava mais no campo. Era mais nova e andava mais no campo. Por isso a que cozinhava mais era a minha avó.