Eu tinha 11 anos e o meu pai, a minha mãe, as minhas irmãs e os irmãos iam à romagem de Vale de Maceira. E eu também queria ir com eles. O meu pai disse:
- “Tu para Vale de Maceira? Tu para o Vale de Maceira não podes ir. Como é que vais com as canadianas? Com 11 anos daqui para Vale de Maceira, tão longe. Não podes ir.”
- Ó pai, eu também tenho que ir. Eu não fico cá.
Comecei a chorar. Ele tanto me viu até que me disse:
- “Olha que tu não és capaz de vencer.”
- Eu experimento. Também se vir que não posso, volto para trás.
Lá vesti outra roupazita e disse para eles:
- Olha, eu vou andando.
Lá fui indo, por aí fora. Chego ao alto da serra e não sabia onde ficava Vale de Maceira. Não sei se ficava para a esquerda, se ficava para a direita. Bem, mas eu no alto da serra, senti fogo, e eu disse:
- Já sei para onde é! É para a direita. Estão a deitar fogo, de certeza que é em Vale de Maceira. É lá na romagem.
Então eu apanhei aquilo. Nem sabia o que era uma estrada, nunca tinha visto um carro e cheguei ali e topei-me com a estrada, com um caminho largo. Ia um bocado já naquele caminho, apareceu um carro! Eu fiquei admirado.
Quando eu cheguei a Vale de Maceira é que eu vi tanto carro, é que vi mesmo que era um carro que tinha passado por mim. Os meus pais no caminho nunca mais me viram. Disseram:
- “Com certeza foi-se perder. A gente não o viu mais, foi-se perder.”
Quando chegaram a Vale de Maceira já eu estava sentado debaixo dos carvalhos, á sombra.
- “Então tu já aqui estás?”
- Pois eu já aqui estou.
- “Então vieste tão depressa?”
- Então não vim?!
E consegui ir para Vale de Maceira com 11 anos. Uma lonjura destas é que foi. Fui e vim outra vez a pé. Aí umas duas horas e meia, perto de três horas, para cada lado. Uma pessoa tinha que ter coragem. Eu tinha uma vontade enorme para a romagem. Eu via os outros e também tinha que ir. Gostei muito da romagem.