Eu praticamente pouco podia fazer. Eu no campo não podia... Mas sem uma perna ainda cheguei a pegar numa enxada e a cavar ao pé de homens. A minha mãe chamava pessoal para cavar a terra porque era tudo cavado, não podia entrar uma máquina, um tractor, não podia entrar nada. Tinha uma vontade para trabalhar, mas não podia. Aí é que era o problema.
Eu cheguei a ir para o pinhal. O meu pai não me queria deixar ir de maneira nenhuma. Eu começava a chorar. O meu pai teve que me deixar ir mais outro rapaz que vivia aqui, um vizinho meu. Fazermos rolaria para o pinhal. Cortar pinhal só com uma perna, de rastos no chão. Traçávamos os rolos, descascávamos, empilhávamos, aquilo era ao metro. Ao metro cúbico de madeira. Era a 20 escudos o metro. Mas quando a gente fazia dois metros eu vinha para casa muito contente, que já tinha ganho 20 escudos. Mas ao fim de ver que era demais, tive que deixar aquilo. O outro rapaz gostava muito que andasse ao pé dele. O outro podia bem trabalhar, mas gostava que eu andasse ao pé dele. Era um grande amigo meu, ainda hoje o é! Ainda estes dias estive com ele. Ele esteve aqui e disse:
- “Hei-de ser sempre.”
Fôramos pequeninos os dois criados. Íamos ser sempre amigos. Abraçou-se a mim. Chama-se Joaquim Luís Gonçalves. É da Covita também. Andava aí muito rapaz, podiam andar com ele no pinhal, mas ele queria-me a mim mais do que queria os outros.
Não tive nenhum trabalho pago. Fui ajudando só. O meu pai também tinha umas ovelhas e eu gostava de andar com as ovelhas a deitá-las aí para o campo . Estavam habituadas comigo e não se iam embora. Eu sentava-me, porque elas não fugiam. Se eu me levantasse, não era preciso falar-lhes para vir embora. Elas abalavam logo atrás de mim. Eu conhecia as ovelhas. Para lhe tirar o leite logo de manhã e à noite às ovelhas tinha um bancozinho, assim baixo. A gente chamava um curral onde a gente tinha as ovelhas. Eu para lhe tirar o leite sentava-me no banquinho e as ovelhas estavam tão bem ensinadas que punham-se todas em volta do curral e eu tirava leite à primeira. Ia-lhe tirando o leite, não era preciso mandá-la embora, ela saía e entrava logo outra. E assim conseguia tirar o leite às ovelhas todas sem me mexer dali. Eram oito ovelhas.