Aos 7 anos fui para a escola. A escola era aqui em cima nos Chãs d'Égua, mais para cá um bocadinho. Ao sair mesmo dos Chãs d'Égua é que era a escola. Demorávamos mais ou menos meia hora. Ia daqui da Covita por o caminho, onde agora é a estrada, direito lá em cima aos Chãs d'Égua a pé. Nem que a gente, às vezes, apanhasse um carro ou que mandassem vir um carro não havia estrada.
Lembra-me tal e qual como seja hoje aqui. O primeiro dia fui, mas de letras não conhecia nada. Ainda não conhecia nada. Comecei então a aprender e comecei a decorar as letras. Era uma professora. Ainda esteve um professor dois anos. A partir daí foram só professoras. Aqui nesta terra, às vezes estava cá um ano uma professora. Ao fim estava outro ano sem haver escola. A gente ia-se esquecendo daquilo que aprendia. A gente era miúdo, não fazíamos por estudar. Ainda assim, as professoras que tiveram cá foram umas três. Todas me tratavam bem. Também não respondia como alguns miúdos. Ensinavam as letras, tudo bem.
Na escola escrevíamos em cima das carteiras. Depois escreviam no quadro e a gente passava para papéis. Tínhamos o papel e pedra. A gente, às vezes, escrevia e apagava nas pedras. As senhoras professoras escreviam no quadro e a gente também escrevia nas pedras. Ao fim, vinha ver se realmente estavam as contas e tudo certo ou não. Se não estivesse certo explicava. Nunca me lembra que levasse uma reguada. Nunca. Porque realmente não foi preciso. Era um aluno muito humilde. Nas contas eu decorava muito bem. E nos livros também. Enfim, ia estudando. Às vezes, em casa, à noite, pegava e estudava um bocadinho. A gente quando vinha da escola ia deitar o gado por aí para o campo e, às vezes, ainda se levava os livros para se lá estudar ainda um bocadinho. O gado andava ali e a gente estudava ainda um bocadinho.