Eu fiquei tão indignado que disse para os outros alunos:
- Olha, eu hoje não vou mais à escola.
E eles, claro, se eu não fosse eles também não iam. Então, como é que a gente fez aquilo? Nós saíamos de casa. Havia um palheiro. No rés-do-chão dormiam as cabras e em cima, no primeiro andar, era onde tinham o pasto, as ramas do milho, o resto daquela rama que aproveitava-se tudo e ia para os palheiros. Depois, no Inverno, aquilo desaparecia. E, então, era o primeiro palheiro que a gente encontrava lá em baixo. Eu dizia:
- Então, nós temos de saber a hora em que passamos.
Para fazer que íamos à escola. O que é que eu faço? Faço um relógio de sol. Com uma pedra, faço um círculo, depois ponho lá os números, 12, com um buraco e um pau ao meio. Portanto, quando ali passávamos tinha de ser duas horas da tarde. Porque era tanta gente, 60 e tal alunos, que tínhamos sempre turnos. Isto é, por pequenos períodos, tinha de reduzir os períodos de aulas. Então, era às duas horas quando o sol ia rodando e a sombra do pau ia andando. E às duas horas saíamos dali a correr, como era sempre. Vínhamos lá de cima da escola a correr por ali a baixo. Nós, em cinco minutos, púnhamos lá em baixo. A ver aquele que corria mais. Depois, a fazer barulho, aparecíamos na Portelinha. Chamávamos a Portelinha, onde se via a povoação. Era pequena a povoação. Íamos para ali fazer barulho, escola nada. Só quando o professor mandou recado para o meu pai é que ele me obrigou a ir à escola. Era eu, era também já as minhas duas irmãs, andávamos lá todos.