De manhã, o prato do dia era ir buscar um molho de mato às encostas. Depois arreava-se à porta do curral das cabras e ordenhavam-se. Fazia-se a ordenha e depois partia com elas para a montanha. Lá andava todo o dia. E só comia um bocado de broa.
Às vezes também se usava uma latinha de folha-de-flandres, assim pequenita, e aí ordenhava a cabra. Depois, numa fonte, aumentava leite à água. Migava-lhe a broa e comia. Era interessante. E há uma coisa importante: no Inverno, ferrávamos o leite. Ferrar o leite era fazer uma fogueira e punha-se lá uns seixos. Aqui há muitos seixos e aquilo, na fogueira, punha-se quase em brasa. Depois tinha lá o leite dentro, deitava lá os seixos e aquilo fervia de repente. Às vezes até deitava fora. Mas era muito gostoso. Ferrar o leite era uma maravilha. Um hábito, um costume, isso era tradicional aqui. Para além dessas serras que envolvem aqui o Piódão, já não era assim. Só os pastores aqui da Serra do Açor é que faziam isso.
Para comer era exclusivamente uma fatia de broa. Às vezes levava a tal lata. Levávamos aquilo ao ombro numa talega, que era feita de pele de cabra. É como os alunos levavam para a escola. Tinha umas pegazinhas, uma correia de cabedal, botava-se ao tiracolo e andava o dia todo com aquilo às costas. E só com uma fatia de broa lá dentro. Só à noite é que se vinha comer. Era muito duro.