Houve um padre no Piódão que era de Vila Nova de Poiares e era um caçador. Ele dizia de manhã a missa ou fazia lá as suas orações e a seguir ia para caçar aqui atrás desta lomba. Porquê? Porque havia lá as tais cavadas e onde havia as cavadas havia perdizes. Porque as perdizes iam comer o centeio, governavam-se de centeio. E havia muito coelho. Antigamente havia para aqui coelhos e aos bandos de perdizes. Então, ele ia para lá. Mas aquilo ali era muito rochoso. Havia uns penedos muito altos e era de cima desses penedos que ele matava os coelhos e perdizes, sem andar a correr o mato. Pumba, pumba, pumba! Um dia descuidou-se, coitado, e cai do penedo abaixo. Então, ele começou lá a gritar. Foi em Foz d' Égua que souberam. Ouviam para lá gritos, mas ele já não se podia mexer. Foram para o outro lado da ribeira observar onde vinham esses gritos. Viram que eram lá dos tais rochedos. Então, foram lá buscá-lo. Mas coitado, aquilo era muito alto. Fracturou a espinha de uma tal maneira que morreu disso. Se calhar ainda foi nesse transporte que deram cabo dele. Hoje há o cuidado de ver como está o doente ou o sinistrado. Se está fracturado as espinhas, se está um braço partido e, então, é imobilizado logo ali no local. Mas nesse tempo não. Chegaram lá, levantaram-no de charola às costas - tinha de ser às costas -, acabaram com ele. No dia seguinte, morreu no Piódão. Depois partiram do Piódão duas pessoas para irem a Vila Nova de Poiares dizer à mãe que o filho estava doente. Não lhe disseram que tinha morrido. Então, a mãe vem mais não sei quem e, quando chegaram aos Penedos Altos, lá na serra, avistaram o Piódão. A mãe viu a casa iluminada pelas janelas, disse:
- “Já morreu o meu filho, o meu filho está morto.”
Chegou lá e esteve meia hora em cima do filho a chorar. Só quando o retiraram de lá é que ela deixou o filho. Foi enterrado no cemitério do Piódão. Foi verdade porque, isto não é mentira. Há lendas que podem estar um bocado atrofiadas, mas aquele não. Ele usava uns sapatos de biqueira afiada. Os padres tinham reservado lá um canteiro para eles e, então, apareceram os sapatos ainda intactos. Isso era do padre Pinhanços, mas eu andei à procura do nome do padre Pinhanços e não encontrei. Não sei. Ainda fui a Vila Nova de Poiares ver se recordavam do padre Pinhanços e tal. Como ele andava para aí pelos montes, que fosse uma alcunha. Nunca encontrei registo dele. Encontrei registo de 39 padres que passaram pela freguesia do Piódão. Só não encontrei o nome dele. Esta é uma lenda que andava aí, mas já em poucas pessoas. Só um senhor de Chãs d' Égua, que era pai do senhor Manuel de Sousa, esse é que relatava tudo, tudo, tudo. Era um histórico. Um lendário, assim é que é.