O condão do lobisomem

Os lobisomens era assim: dizem que aquilo era transmitido de uns para outros e que havia um sujeito que tinha um condão de lobisomem. O lobisomem chegava àquela hora da noite e tinha de percorrer sete freguesias. É verdade. Andava muito, mas houve factos disso.

Uma ocasião, no Verão, o pai da minha mulher (que era de Foz d' Égua) dormia cá em baixo ao pé da ponte. É onde está aquela represa, que um indivíduo de Lisboa vem lá reparar aquelas casas. Onde são as casas eram palheiros e tinham lá as vacas. O único aqui na região que teve vacas, era um tal Manuel Ribeiro. Ele estava lá a dormir e, a certa altura, ouviram ali naquela calçada um barulho! As ferraduras a fazer faíscas! Mas eles atribuíram aquilo aos machos do Manuel Pacheco. O Manuel Pacheco é um indivíduo do Piódão que tinham os machos para acartar as coisas de mercearia e tal, para pôr lá a vender. Mas depois procuraram-no e disseram que não senhora. Que ele não passou lá.

Aquilo já não voltou, prosseguiu para outras freguesias. Mas houve um indivíduo, um afilhado dele, que tinha esse condão. Ele pôs-se na varanda com uma aguilhada de bois e, quando o indivíduo ia lá a passar, ele picou-o. Diz que era assim que tiravam aquele degredo. Que aquilo era um degredo que os gajos tinham. Ele só disse:

- “Obrigada meu padrinho!”

Mas há muitos mais. Eu é que não me lembro muito bem, é muito difícil.