A aguardente de medronho é assim: a gente apanha o medronho, põe em barricas. Eu tenho barricas de 150 quilos. Antigamente era em dornas de madeira. As barricas era mais fácil. Apanha-se o medronho quando eles começam a amadurecer. Depois fica a fermentar até Janeiro mais ou menos. Aquilo está cozido, fermentou. Por exemplo, os antigos chamavam cozer à massa de medronho. A gente deita a massa dentro do alambique, mas é diferente do bagaço. A gente põe lá dentro o cardaço ou o bagaço, como dizem, e põe-se-lhe a cabeça e lume por baixo. Ele depois começa a ferver e começa a deitar aguardente. O medronho não. O medronho dá muito trabalho, mete-se a massa dentro do alambique e é preciso estar a mexer até ferver. Quando estiver a ferver, a pessoa tem de conhecer muito daquilo, porque senão pode pôr-lhe a cabeça antes ou depois. Só a partir de que ele esteja a ferver bem é que se põe a cabeça. De maneira que é preciso estar sempre a mexer, a mexer, a mexer, a mexer a massa lá por períodos pequenos. Até há duas maneiras de saber quando é que se põe a cabeça. O pau com que se mexe está sempre dentro. Depois vai-se apalpando o pau. Quando ele escaldar, está pronta. Ou, então, quando a bafa do alambique for direita. Isso era o método antigo. Mas o meu método é diferente. Eu vejo quando ela está mesmo a ferver: começa a fazer barulho. Põe-se-lhe a cabeça. Naqueles alambiques tradicionais, é preciso muito cuidado. Tem de reduzir logo a fogueira. Aquilo que se costuma fazer é: com a mesma cinza das fornalhas, umas vezes para as outras, a gente abafa-a. Ou então abafa-se a fogueira com torgas do mato ou paus verdes. Porquê? Porque senão a massa ferve e sai lá no cano. É uma alambicada estragada. Por isso é que se diminuía a fogueira. Pronto, aquilo não pode deixar de deitar fumo. Têm que deitar, estar ali a deitar devagarinho. Sente-se aquela lenha outra vez, tem de se estar sempre a abafar. Senão começa a deitar muito e depois sai com mau gosto.
Agora apareceram os alambiques de serpentina. No cimo da cabeça, tem um depósito com água e tem a serpentina num tambor. Vai saindo a aguardente ali clarinha. Tem de sair cristalina e fria. Aí é que é importante porque, se se deixa correr muito, sai quente. Tem de sair fria.