Antes da aparição do milho, em 1492, só se vivia do centeio. O cereal que era semeado aí nas encostas da serra, em altos e baixos, era o centeio. Não havia outra produção. Quando apareceu o milho, as pessoas viram-se na necessidade de ter um trabalho extenuante, uma coisa fora de série para construírem os socalcos. Era preciso arrancar rochas e fazer paredes, porque os terrenos são tão elevados que não se podia subir. Tinha-se de arranjar um plano para semear o milho. Então, como era elevado faziam os socalcos, vários planos, paredes e tal.
A cultura do milho era muito difícil. Aquilo era uma cadeia. Primeiro, quem queria ter milho tinha de ter a sua cabrada e quem tinha a cabrada tinha de ir à serra para ir buscar o molho de mato às costas, que era o único meio de transporte que havia. Era tudo manual, não havia nada, nem burros aqui funcionavam. Os caminhos eram tão difíceis. A elevação não permitia isso. As pessoas é que tinham de fazer tudo pelas suas próprias mãos. Portanto, iam à serra buscar o mato para as cabras irem amassar. Faziam o estrume e o estrume era acartado às costas, em molhos, para as fazendas. A cultura do milho dava muito trabalho. Tinha de haver estrume, senão não produzia nada. E água. A água era importante. Era essencial para a cultura do milho. Se não houvesse água, não se criava nada. Tiveram que fazer estes socalcos para arranjar um plano porque, se fosse inclinada a terra, a água ia-se embora, passava e não se entranhava na terra e o milho não se dava. Portanto, isso foi a razão de fazerem esta grande obra dos socalcos por aí fora.