Aqui, o único cereal que se criava sem água era o centeio. O centeio era no Verão. Ali a partir de Março e depois Primavera, eram as cavadas. Em qualquer lado que houvesse uma cavada de centeio tinha de ter giestas. Aquilo só produzia de sete em sete anos, porque o estrume daquelas giesteiras davam folhas. Traziam e iam secando. Depois, na altura, quando se queria realmente cavar a terra, já estavam sete anos passado. Havia muito estrume e era cortada a giesteira. Eram uns a cortar as giesteiras, outros a cavar e eram estendidas em cima da terra. Era uma coisa impressionante. Se calhar, a cultura do centeio aqui era única pela forma que se fazia. Mas também se fazia noutros lados por cavadas. Aqui na Beira Baixa era só o mato, não havia giesteiras. O mato era os arbustos das sabugueiras e a carqueja. Então, cortavam esse mato, ardiam e cultivavam centeio com boa produção. Nós aqui, na região do Piódão, nesta bacia geográfica, era a giesta. Então, quando era para cavar a terra, ia-se cortar as giestas. Depois, à medida que ia estando cavada a terra, iam uns a cortar à frente, outros iam atrás a cavar e depois a estender a giesta em cima da terra. De maneira que depois, em Agosto, pegavam-lhe fogo. Aquilo já estava tudo seco, ardia até à terra. Criavam aquelas cinzas da queima. Era o único adubo, ninguém deitava adubo artificial nas terras. O único adubo era a cinza daquelas giestas e daquele estrume que já lá havia. Em Setembro, que era no mês das águas, semeavam. Depois nunca mais ligavam importância ao centeio, lá se criava sem mais trabalho. Só depois ia-se ceifar em Julho.
É memória que está aí mas abandonada evidentemente. Hoje já ninguém cultiva centeio, ninguém cultiva nada. Porque a evolução da vida, da indústria e tudo anulou o trabalho que fizeram os antepassados.