No meu livro, tenho um episódio de uma senhora que foi pela primeira vez a Lourosa. Havia pessoas que nasciam e morriam aqui sem nunca ultrapassarem a serra. Não conheciam mais nada do que este bocado de céu. Tudo o que via, tudo para ela era uma admiração. Quando chegou a Lourosa, aproximou-se da Feira. Já ouvia os vendilhões de sardinha. Sempre fizeram muito barulho:
- “Compra-me a mim, ó freguês! Compra-me a mim!”
Era um alarido terrível. Ela, quando chegou à feira, diz:
- “Louvado seja Deus! O que o mundo é de grande! Para além de Lourosa, ainda há casas!”
A admiração dela, porque em Lourosa ainda havia casas. É para vermos o isolamento das pessoas. Só saíam daqui para ir à feira. De resto, não saíam. Aqui nasciam, aqui morriam. Isto era o isolamento em que viviam. Por isso é que, em 1950, mais ou menos, desenvolveu-se o regionalismo em Lisboa e aqui nas aldeias. E foi o regionalismo que acabou com o isolamento. Aqui tudo era primitivo, nada estava alterado da Natureza. Não havia telefone, não havia água canalizada, não havia estradas, não havia escola, não havia coisa nenhuma. Vivia-se como os primitivos tempos.