Havia uns indivíduos que contratavam pessoas. Era os jovens. Às vezes, iam chefes de família. Então, contratavam essa gente e iam trabalhar para o Ribatejo, para as grandes herdades. Iam nove meses. Iam para a vindima, depois para a apanha da azeitona e para a cava das vinhas.
Apareceu um indivíduo - chamávamos um manajeiro ou capataz - que depois lá comandava o rancho. Chamava-se a malta. Lá vou eu para a Quinta da Granja, do Duque de Palmela e aí andei um ano. Foi em 1938. Tínhamos de nos levantar de noite e eram duas horas a pé para o local de trabalho. Isto era em vários lados, mas era mais na Cova da Loba. Já ficava ao pé de onde queriam construir o campo de aviação de Ota. E, então, nós íamos para lá, para desbravar as valas. Para limpar as valas que conduziam a água para Vila Nova da Rainha, lá para o Tejo. Às vezes, íamos para a azeitona. Eles tinham muita azeitona. O Duque de Palmela tinha mais azeitona. Tinha um lagar lá na quinta e eu andei lá a trabalhar. Era meses e meses ali a trabalhar. Depois vinha a azeitona de todas as quintas. Ele tinha, ali em Tancos, várias herdades, quais quintas. Não se via o fim nem o princípio. Andei ali o primeiro ano e depois fui para o Marquês de Ponte de Lima.
Em 1939, eu fui com outro capataz para a Quinta do Marquês de Ponte de Lima - é lá do Norte - que era uma quinta enormíssima. Foi uma coisa terrível. Foi mulheres, raparigas, rapazes. Um capataz era tão besta que nos pôs a beber água da vala do arroz, água do arroz. Estava contaminado com micróbios, apareceu os febrões. Tudo a tremer com os febrões, que era as febres, chamavam as maleitas. Aquilo era uma coisa tão insuportável. A gente começava a tremer com frio. Estava uma hora a tremer e depois descarregava um febrão. A gente ficava ali como morto. Aquilo curava-se com quinino, umas cápsulas muito grandes. Tomámos aquilo, mas muitos não conseguiram. Alguns morreram lá por causa disso.