Os meus pais ensinaram-nos era a trabalhar. Começávamos logo de pequenos. Eu era a mais velha. Claro que era preciso, às vezes, a gente ir fazendo alguma coisa para ajudar a criar os mais novos. Eu comecei pequena a ir para as cabras. Da parte da manhã trabalhávamos na agricultura, depois de tarde é que a gente ia com o gado, levar a pastar. Íamos ao mato para o estrume para elas. Se era preciso fazer alguma coisa fazíamos, se não fosse preciso almoçávamos e depois íamos para o gado.
No Verão, levávamos uma lata, a merenda e uma cabra por ordenhar para depois a gente lá comer o leite de dia. Era para ordenhar, púnhamos com água, para migar o pão para comer. Levávamos merenda e levávamos o pão, a broa. Naquele tempo, não havia pão como há agora. Levávamos era broa e depois a gente agarrava e comia com o leite. Levávamos uma colher e comíamos.
Eu era a mais velha dos meus irmãos. Ia com mais, mas eu é que andava sempre na frente. A gente ia para longe ou perto. Era conforme calhava. Às vezes, andávamos umas por um lado e outras pelo outro para ver se vinha alguma coisa para as cabras. A gente tinha que olhar pelo gado por causa dos lobos...
Havia lobos naquele tempo já. Muitos. Às vezes, víamos. A gente ia dizendo que eles vinham tirar os cabritos. Quando, as cabras pariam, às vezes, pariam duas no mesmo dia, a gente com os cabritos punha-se à tabela para modo de chegar ao curral com os cabritos. A mim não, mas a uma vizinha minha levou-lhe um cabrito. Nós andávamos lá com o gado. Já ia com ele nos dentes e a gente:
- “Larga-o! Espera lá que já vais!”
Levou-o. Ia já nos dentes dele. Quando a gente chegou a casa, que remédio tinham eles senão aguentarem-se.