Antigamente havia pouco trabalho na aldeia e a gente, coitadinha, vivia mal. Quem tinha uma artezita ainda se podia ir governando. O que não tinha, pronto, tinha que se retirar. Uns foram para Lisboa, outros foram para um lado e para o outro, mas foi-se tudo embora, mesmo para o estrangeiro. Enfim, pulgaram para outros lados. Eu também ainda fui estar em Lisboa numa fábrica de fazer mobílias e móveis de cozinha. Estava lá um cunhado meu nessa fábrica e, ao fim, por cartas, pedi-lhe para ir para lá também. Ele lá me arranjou para meter ao pé dele. Era uma trabalheira, mas estava lá bem. Era de fazer móveis: cortar alumínio, cortar tampos para os móveis e colar. Ainda lá estive, mas a casa era somenos. Morávamos numa cave. Depois calhou o meu pai, que Deus tem, andar aos meses. Calhou-lhe o meu mês para ir tomar contar dele. E o que havia de lá ter ali naquele sítio? Disse:
- Pronto, assim tenho que desistir do trabalho.
Lá fui pedir aos patrões e despenderam-me. Naquela altura havia tantos... Tão depressa aparecia, como saía, como aparecia. Não estou bem certo, mas estive pouco tempo, dois ou três meses. Mais que três meses não foi. Gostava daquilo, do trabalho. Ainda aqui há tempos lá fui. Fui no mês de Natal. Ainda lá conhecia pessoas, a fábrica e tudo! Lisboa era grande e eu não conhecia ninguém na primeira vez que lá fui. Tanta gente, ai, credo! Lá fui andar a ver, mas agora já está tudo mais mudado para o que era antigamente. O senhor Pascoal, o dono da fábrica, ainda hoje em dia me fala: se eu lá quisesse ir, tenho o trabalho às minhas ordens, tanto eu, como o meu filho. Mas eu saí, pronto, já não quis mais ir.