Com 12 anos fui trabalhar como mecânico. Havia uma empresa de mecânica em Arganil e eu fui para lá trabalhar. Trabalhei até aos 19 anos como mecânico. Depois fui para África. Emigrei, fui para África, para Moçambique. Eu já estava a trabalhar em Lisboa quando, um cunhado meu, também ia para Moçambique. Eu estava em Lisboa disse:
- É pá, vais para Moçambique? Olha também vou. Vamos os dois.
Fui no barco Moçambique. Fomos os dois. Eu fui para trabalhar como mecânico e depois fiquei lá. Fiquei lá até 1975, até à independência de Moçambique.
Os meus cunhados já eram algodoeiros lá e eu integrei-me com eles também. Deixei de trabalhar na oficina para ir para algodoeiro.
Nós semeávamos, colhíamos e vendíamos algodão cá na metrópole. Era vendido em Portugal. Havia companhias algodoeiras em Moçambique que tinham a estrutura algodoeira e nós cultivávamos e vendíamos a esses algodoeiros que estavam em Moçambique. O algodão vinha em fardos de 200 quilos. Era 10 escudos o quilo. Custava 20 contos. Em Portugal de que é que se vivia? Era do algodão que vinha das colónias. Cheguei a ter 1000 empregados. No tempo da apanha do algodão tínhamos sempre 500, 600 em média. Nós tínhamos 1000 hectares de terreno.
A casa de Moçambique era uma casa de algodoaria. Uma casa grande não era, mas também não era palhota. Eu por acaso tinha muitos cabritos e tínhamos porcos. Eu tinha 400 vacas e 200 e tal cabritos e porcos. Tínhamos muito gado.
Nós chegámos a estar na região do Chiúre, na Missão que havia, estávamos lá 30 benfeitenses, tudo agricultores. Ia muita gente para África do Sul e Angola. Uns iam e não se davam lá, vinham-se embora. Outros ficavam e vivíamos assim. Estive 16 anos em Moçambique a trabalhar como algodoeiro. Depois veio o 25 de Abril, tivemos que regressar à pátria.