Foi a minha vida sempre por fora de casa. Agora que estou inutilizado é que não posso andar. O meu filho, às vezes, aos sábados ou assim, é que me pega na máquina e ainda me curava aí as novidades, as batatas e os feijões. Coitadinho, tinha dó da gente:
- “Ó pai, deixe lá. Eu vou lá curar.”
Lá me curava. O que é que a gente há-de fazer? Com a minha doença, estava a ver que tinha que pedir emprestado. O táxi para a Vide, onde estive a tratar-me, eram quatro contos. Quatro contos para a Vide! Há dois anos e tal que andávamos na Vide. Ainda foi a dobrar mais. Mas a enfermeira tanto se via um dia como se via ao outro. Ao fim, um dia, eu disse para ela:
- Ó senhora enfermeirinha, se favor mandava-me cá vir um médico para ver como é que vai minha perna, se isto tem cura ou se não tem?“
Falou ao senhor doutor e ele veio logo lá ter ao pé de mim. Ao fim é que ele disse:
- ”Tem que tomar remédios.“
Deu-me comprimidos e andei uma semana a tomá-los. Eram de 12 em 12 horas que tinha que os tomar. Tenho-me visto à rasca da minha perna. Graças a Deus, assim que os comecei a tomar, a pele começou em encoirar, a sarar e agora já pouco se conhece. Mas lá tratam-me bem. Passava ali uma vida alegre. Ali estava e ria com as enfermeirinhas. E elas também riam comigo:
- ”Ó senhor Artur, venha para cá para o pé de nós!“
O que é tinha que ir para lá a minha reforma. Mas gostavam muito de mim. Tenho topado boas enfermeirinhas. Às vezes, à tarde, eu ia para o pé delas para uma sala donde lá estavam na brincadeira umas com as outras. Tem lá sido boa gentinha, graças a Deus. Começam-se a rir comigo e eu gosto da paródia com elas, coitadinhas! Ainda hoje é o dia que tenho pena daquela gentinha.