O nome do meu pai é António Joaquim. A minha mãe era Maria Ginésia. Coitadinhos, iam ao mato e à lenha, cavavam a territa, semeava-se as batatitas e o milho.
O meu pai era resineiro no pinhal. Com um ferro, na secção do pinhal, tirava a resina para tigelas lá para outros, que mandavam nele. Foi para Lisboa e depois veio para aqui. Estava aqui e estava em Lisboa ao pé dos outros filhos. Trabalhava nos jardins. Ia fazer aquelas tantas horas. Um irmão e um filho que ele lá tinha é que lhe arranjaram aquele empregozito. Ia para casa lá dos filhos e gostava de estar aí assim. A minha mãe morreu muito cedo, também.
Quando uma pessoa morria ia para baixo da terra, para o cemitério. Agora até se paga uma quota para o Sagrado Coração de Jesus. Quando morre, tem aquela missazinha de graça. É quase como agora. Ao meu pai, que Deus tem, faltava-lhe para aí uns dois, três meses. Pagou sempre. Dois ou três meses deixou de pagar. Quando morreu, disse o padre:
- “Ele deixou de pagar, Laurinda. Só se queres pagar os atrasados.”
- Pago, sim, senhor prior.
Paguei tudo. Quis a missa ao meu pai. Há oito anos que morreu. Ainda agora mandei dizer uma missa. Aqui, eram duas por mês. Eram muitas, mas não podia. Só uma por mês. Não é com o meu, é com o do meu pai ainda. Era muito poupadinho. Dava para nos governar. Se não fosse isso...