Quando o meu filho me compôs a cozinha, pôs dois ferros para eu pôr as varinhas para secar o enchido. Tínhamos, com licença, um porquinho. Quando ouvia gritar os porquinhos no povo, era uma alegria. Depois, deram-nos em comprar.
Eu criava-os. Criava os porquinhos e fazia o enchido. Era uma maravilha. Gostava muito. Era carne cá criada. O enchido era muito melhor que o comprado. Do comprado, não me importa da carne.
Era a um sábado ou a um domingo. O senhor que cá vinha até era do povo. Coitado, não tinha que fazer. Era só quando ele podia. A matança do porco era com uma faca nas goelas. Até aparava o sangue e a gente cozia-o num caldeirinho. Depois, era arranjado com cebola. Era uma coisa muito boa.
Salgávamos a carne numa gamela e púnhamos numa tinazinha, numa arca. Era o governo para todo o ano. Púnhamos os varões. Enchiam com uma enchedeirazinha as chouriças. Agora, já há mais de dois, três anos que nada. Os porcos, já há tempo. E, agora, também o filho disse:
- “Oh mãe, andar a comprar carne para fazer enchido. Olhe, compre-o já feito.”
Eu também não posso. Os meus ossinhos está tudo deformadinho. Dizem os médicos e eu não me seguro mesmo dos ossos. Olha, deixa!