A minha mãe é Laurinda dos Anjos e é da Mourísia. O meu pai é Artur Castanheira e é daqui, da Quinta dos Moinhos. Ela nunca teve trabalho noutro coiso senão na agricultura, tanto lá na Mourísia como aqui. O meu pai, o trabalho dele era compor moinhos, arranjar podões e levar podões para trás da serra. Também fazia podões novos para aqui e ia levar aí por as terras. Os podões era para cortarem o mato e para ceifar erva. Antigamente roçava-se cá muito mato. Precisavam dos podões, não era como agora que não há quem roce mato. E havia também uns “soitoiros” que eram uns foições para cortar o centeio. Aqui, por estas coisas “pia cima”, havia muito centeio.
Ele andava aí, ao dia, a cavar terra e trabalhava também de ferreiro. A ferraria era logo aqui ao pé da fonte. Quando se desce para os Moinhos, vê-se logo aquela porta grande, larga, era aí. Já vem do tempo do meu bisavô. O meu bisavô era da Aldeia das Dez e depois veio para os Moinhos. Casou aqui com a minha bisavó e depois ensinou o filho. E o filho ensinou o meu pai também. Pronto, foi de bisavós para netos. Agora a ferraria até está cheia, que a gente vendemos o fole. Comprámos uma ventoinhazinha pequena para arrefecer o ferro, mas a gente depois já não tinha coiso para puxar ao fole.
O meu pai ainda esteve em Lisboa, numa fábrica de móveis, mas governou-se sempre por aqui, coitado. Depois foi reformado. E agora, infelizmente, está incapacitado, não pode andar. Têm de cá vir os enfermeiros todas as semanas fazer um penso numa perna, que ele tem uma doença, uma úlcera varicosa.