Eu e o meu pai sempre tivemos cabras e ovelhas. Mas uma vez, vim do trabalho, cheguei aqui, ouvia-o gritar aí para baixo. Digo eu:
- Que raio! Que é que andará para ali?
Depois vim ali ao fundo da casa, lá me apercebi que era ele. Lá estava ele caído no meio do mato. Escorregou, o molho passou por cima dele, ficou lá, mal caído. Depois não se conseguia levantar. Lá fui eu atirar-me por aí abaixo, lá o trouxe. Depois, a partir daí, disse:
- Não! Temos que acabar com o gado.
Mas ele dizia:
- “Não, não, não!”
- Não, sim! Temos que acabar.
Depois daquilo, as forças foram faltando, foram indo, foram indo até que um dia lá se convenceu. Diz ele:
- “Olha, vamos acabar então com elas!”
E pronto. Acabámos com elas há uns cinco anos talvez. Mas o meu pai chorava com a pena das cabras! Ia para lá, para o pé delas, punha-se a passar a mão por cima e a chorar em volta delas. Aquilo parecia que tinha ali um menino! E eu disse:
- Deixe lá, pai! Ó pai, então, você não podia andar, como é que você podia?
Agora diz ele: acabei com as cabras, que acabei com ele, que ficou mais preso. E ele por aí está. As cabras, comemo-las! Aquilo que se cá criava cá se comia. Um ano matámos uma, outro ano matámos outra e depois, então, matámos o chibo e uma cabra que era para leite. Mas davam leite que era uma categoria! Mas, pronto, tivemos que nos desfazer daquilo. E é assim.