Depois é que então viemos para os Moinhos. Arranjámos uma barraquita em baixo, uma casa onde os meus pais estão a viver. Ainda era frontais, que ainda lá está os frontais de madeira. As paredes, arranjámos barro nas barreiras, rebocámos aquilo e demos-lhe uma caiadela. A gente lá conseguia viver.
Tínhamos três divisões: era o quarto dos meus pais, eu também tinha lá outro e o do meu avô. Ele andava a trabalhar em Lisboa, mas depois veio para cá, para o pé de nós, e também lá tinha um quartito. Éramos todos três em três quartos, cada um no seu partimento. E tínhamos uma salita pequenina. Primeiro, só na casa é que tinha uma cozinha. Depois o meu avô era pedreiro, o meu pai também sabia, percebia da pedra, fizeram então uma cozinhazita ao lado e um fornozito para cozermos o pão, que aqui antigamente cozia-se. De 15 em 15 dias o forno tinha que trabalhar para a gente. O sustento que a gente cá tinha era broa e feijão. Não tínhamos casa de banho. Isso era lá por as leiras e assim, que era por onde nos desenrascámos. Era a casa por cima e umas lojazitas por baixo. Numa loja tinha duas arcas ou três para pormos o milho, o azeite e a salmoira. A outra ao lado, na mesma casa, era onde metíamos o porquito. E tinha um sótão pequenino que era onde eles punham alguma coisa, alguma arrumaçãozita. Tínhamos um curral e, às vezes, às dez cabeças de gado. À volta, tínhamos muita terra, que ainda hoje temos aí. Está uma cheia de silvas, outra de relva. Já pouco podemos cultivar, porque as forças vão faltando.