Antigamente, mesmo até Quarta-feira de Cinzas, que é logo no princípio da Quaresma, não podiam comer carne. E na Quaresma, às sextas-feiras, ai da gente que lá comesse! Então, de jejuar aqueles dias parece que até estava a puxar a vontade de comer a carne ou irmos ao presunto. Mas a minha mãe, está bem está! Ai daquele que lá mexesse! Não podíamos mexer na carne, nem no enchido, nem nada. Agora também se respeita. A gente não vai comer todos os dias carne. Mas já não ligam tanto como antigamente. E Sexta-feira Santa é que é bacalhau ou peixe. Carne, nesse dia, é que não. É um dia respeitado. Às vezes, ainda respeitam, mas é pouco.
A Páscoa era mais ou menos como agora. Pronto, antigamente vinha o padre, agora vem o leigo de porta em porta com as lanternas e com a Cruz. Depois vem uma mão cheia de pessoal também. Em minha casa, é tradição todos os anos beberem sempre um copo de vinho branco e comerem um bolo de forno, uns bolitos amarelos. Já vão todos satisfeitos. Antigamente já não. Vinha um homem com um cesto a pedir para o padre. Chamavam folar. Dava-se queijo, o que a gente pudesse dar. Mas agora é com dinheiro que a gente paga o folar. Põe-se num envelope na igreja, quando se vai à missa.
Todos os anos lá vamos benzer os ramos. E dizem que aquilo, quando está a trovoar, é para se queimar nas brasas que afasta mais a trovoada. No Dia de Santa Cruz, há gente que também põe aí cruzes nas fazendas e nas padieiras das portas. Lá no Piódão é que têm essa tradição.