Isto aqui pouca malta cá havia. Bem, havia muita gente mas aqui, deste lado, havia pouca. Era só eu mais um vizinho meu que deve estar para a Alemanha, que ele diz que andava lá a trabalhar. Às vezes, brincava mais ele, mas, quando eu vim para aqui, ainda pouca gente havia e eram mais velhos que eu. Agora, mais tarde, já havia outros moços daquele lado de lá. O Raul começou a ter filhos, eu ia para lá para o pé deles. Outras vezes eles vinham até aqui. E havia outra moça lá em cima nos Barreiros, que essa já faleceu, coitada, infelizmente. Depois, começámos a arranjar camaradagem dos mais novos e assim sucessivamente. Era assim, íamos ter uns com os outros. Eram com que a gente nos entretínhamos aí.
Quando vinha o Verão, aquilo era uma festa! Andámos sempre enterrados na água! A gente bastava assobiarmos que já sabíamos que era para irmos para a ribeira. Íamos para lá, andámos nas trutas, que havia cá muita truta, e andámos sempre enterrados na água de manhã à noite. Depois, chegámos a casa, os velhos enxotavam-nos o pó! Diziam eles:
- “Ai sim!? Então de onde andardes agora ides comer!”
E a gente calados. Depois diziam-nos:
- “Vá, agora ides tapar a poça para não levardes porrada!”
E a gente lá íamos, às vezes escuro, tapar as poças. No outro dia de manhã, levantávamos cedo e vínhamo-las botar que era para eles não nos baterem. E era assim a nossa vida.
Brinquedos, isso aqui poucos. Ai de nós! Às vezes, os meus padrinhos é que quando cá vinham traziam um carrito. Mas as nossas brincadeiras eram assim: quando andávamos com o gado na rua mais os outros colegas daquele lado, fazíamos casitas aí no meio dos matos. Às vezes, era a minha mulher lá da Covita a falar-me e a gente lá a esconder-se numa casita que ainda está em baixo. Agora passou lá o lume, mas ainda não caiu as paredes. Lá estávamos assim “encochidos” e, às vezes, fazíamos lá lume também.
Pronto, não havia brinquedos como agora. Podia haver brinquedos, só que não havia era dinheiro para os comprar! Sabe Deus como os velhos se viam para nos governar. Quando vínhamos da escola, o nosso comer era uma tigela ou um prato de sopa de feijão. Não era da sopa assim vulgar. Era um prato daquela coisa de feijão, a carne, com licença, do porco e pão. Era o nosso comer, era o nosso forte. Depois, com uma fatia de broa, um bocado de chouriça. Ficávamos ali com uma peitaça! Agora é Nestum, é iogurtes, essas coisinhas todas. Só no ano passado é que andei a comer aí uns iogurtes. Nunca foi coisa que cá comi. Amargo parece! E gelados, nunca! Não sei se eles são bons, se são somenos. Foi coisa que nunca passou aqui para baixo. É verdade.