Ainda fui com o meu pai arranjar moinhos. Antigamente, daqui à Covanca, eram três horas de caminho! Tive uma caixa de ferramenta de picos, martelos e “o diabo a quatro”. Mas a minha ferramenta era uma serra de carpinteiro, um trado ao ombro e uma flauta. A serra é que não sei se já se estragou, senão, mas o trado ainda aí está. E o meu pai era com aqueles lenços encarnados que havia antigamente. Ainda agora os alentejanos usam desses lenços assim adaptados ao pescoço. Então, íamos por aqui acima, direito ao alto da serra. Quando chegávamos ao alto da serra, o meu pai acenava de cima das fragas. A minha mãe já sabia que a gente já lá ia no alto. Mas daqui para cima é hora e meia, tudo a subir!
Depois, à noite, lá donde dormíamos, sentava-me de volta da lareira a tocar a flauta. Toda a gente lá vinha. Ainda hoje o dia há um velhote na Covanca que diz:
- “Então e a flauta, ó Zé?”
- Ainda lá está! - digo eu.
No Inverno, estávamos ali por volta da lareira. O meu avô tinha uma viola e eu tinha uma flautazita, que desde sempre gostei de tocar flauta. E era ele a tocar naquilo, eu também no realejozito e a minha mãe a cantar. Era um céu aberto aquilo lá! E, pronto, assim se passava mais um bocado até às nove, dez horas. Depois, antigamente, íamos para a cama, porque tínhamo-nos de levantar cedo para irmos para o mato ao outro dia.