Morei em Lisboa, mas eu gosto mais de estar na Quinta dos Moinhos. Pronto, foi a terra onde eu fui criado. Está o meu vizinho, não é de perto, está em Lisboa, mas comprou aqui casa e gosta disto. E a mulher adora! Quando aqui vêm, diz ela que, a primeira noite, até se esquece que está deitada. À segunda noite, então, diz que está a começar a concordar. À terceira noite é que ela diz:
- “Agora é que eu já estou a começar a ver o gosto de aqui dormir!”
Está habituada lá aos barulhos em Lisboa. Vem para aqui, isto é um sossego...
Já andaram a abrir estradões. Mas se para cá vier mais pessoal, turismo, pode ser que até arranjassem mais alguma casa para terem mais postos de trabalho e assim. Ainda andaram aí para pôr uma cabrada, mas aquilo depois foi abaixo. Agora vamos lá ver aquela do Piódão. Andamos lá a fazer umas instalações, as casas, para uma cabrada. Anda uma ao cimo do Piódão. Essa era para cabras bravas. E, lá em baixo, andamos a fazer outra para ovelhas e para cabras. Já lá têm 70 ovelhas e são umas 17 cabras, que é para fazerem queijo e venderem cabritos. Dizem que aquilo foi das eólicas que vão pôr aí nas serras. Estão a dar dinheiro para cá. Se têm de gastar em algum lado, então vão fazer isso, porque nós temos aqui muita água e lameiros bons para o gado. Vão aproveitar. É, como eu digo, sempre vem mais pessoal e sempre é mais postos de trabalho que vão ter aqui. Foi como a Pousada. Arranjaram ali aquela estalagem, já é mais pessoal que ali metem e mais juventude aqui fica. Senão, a malta nova ia embora.
Agora também fizeram o Centro Interpretativo de Arte Rupestre. Acho bem, que é para trazer para cá mais pessoal. Há ali em cima, por baixo de Chãs d'Égua, umas gravuras. Chamam as do Soito. Dormi muito sono, a guardar as cabras, em cima daquilo! Via lá aquilo de cima das pedras, mas eu sabia lá que é que era. Botava as cabras lá para o meio do mato, aquilo faz assim um embalamento e dormia lá muito sono. Ainda hoje o dia que digo:
- Olhe, dormi muito sono de cima desta pedra!
E quem me dera nesse tempo. Já o meu pai diz que se lembra sempre lá daquilo. E o meu avô tinha lá uma quinta para além. Diz que viam lá as gravuras, mas nunca me passou por a ideia que é que era aquilo. Dizem que é coisas de há milhões de anos e não sei quê. Acho importante, porque o Piódão, se não fosse o turismo, era uma terra morta como aqui a minha quinta. Por exemplo, porque não havia desenvolvimento como lá agora há. E o turismo faz sempre falta à gente para desenvolver isto.