O meu pai foi para Lisboa, porque escasseou mais o trabalho. Um padrinho meu, que estava lá, disse para o meu pai:
- “Eh pá, vens até cá que há bom trabalho.”
Trabalhou numa fábrica de móveis. Era colador de fórmica nos armários de cozinha. Aquilo era uma máquina que andava ali para trás e para dentro. E o trabalho dele era com uma espátula, uma lata de cola, um metro e um lápis. Não falhava ali um milímetro nas medidas. E então gostavam até lá dele. Eu e o meu pai fôramos lá passar este ano o Natal. Lá vieram ter colegas com ele. Ainda hoje é o dia que eles lá falam nele e perguntam porque é que ele não ia para lá e tal. O meu pai diz:
- “Oh! Agora é que eu posso para cá vir trabalhar?”
Mas dizem que, lá na fábrica, ainda gostam dele, que não se entretinham com ninguém.
O meu pai ainda lá andou. Mas depois o meu avô adoeceu e andava aos meses na casa dos filhos. A casa em Lisboa também era pequenina, mal era para a gente, e os meus tios não quiseram lá deixá-lo estar no nosso mês, o mês de Março. Tivemos que vir para a aldeia. Regressámos para os Moinhos.