O meu pai era António Paulo Fontinha e a minha mãe Maria dos Anjos. O meu pai era do Piódão, a minha mãe era da Covita. Quando o meu pai veio para a Covita trabalhava no campo, mas depois foi para as Minas da Panasqueira. Era pedreiro. Lá trabalhou até se reformar. Depois de se reformar voltou para o trabalho no campo. Ele trabalhava muito. Não sei bem quantos anos esteve nas minas porque quando ele foi para lá ainda eu não era nascida. Era muito longe de casa para lá. Eram umas três horas e tal a pé. Fazia esse caminho todas as semanas. Vinha aos sábados à noite e ia embora ao fim do domingo, à tarde, para no outro dia trabalhar. Ele sempre levava alguma coisita de comer, mesmo para a semana, e depois compravam lá qualquer coisa. A gente ia levar ao alto da serra, alguma coisa de comer, broa, feijão, umas batatas e conduto. A gente ia levar e ele levava para lá. Lembro-me muito bem.
A minha mãe também trabalhava no campo. Cultivava milho, antigamente, botava-se muito milho, batatas, feijão, hortaliça. Agora neste tempo pimentos, cebola, tudo. Era um pouco de tudo que cultivavam. Para criar os filhos. Éramos oito filhos. Era muita gente e a minha avó também a ajudava em casa. A minha avó é que foi a minha segunda mãe. Que nos ajudou a criar.
Os meus pais eram muito bons. Não podiam ser melhores. Eu nunca me lembra de o meu pai ou a minha mãe me bater. Não podiam ser melhores. E eu também era muito boa para eles. Nunca se chateavam. E com a minha avó guardávamos um respeito que eu sei lá. O que a minha avó dizia nós tínhamos de fazer. Se a gente não fizesse, ao sábado quando o meu pai viesse, ela contava-lhe:
- “Olha ele não fez isto ou não fez aquilo.”
Ele só olhava para a gente, não era preciso mais nada. Nunca nos bateu. Só olhava para a gente e já sabia o que tinha de fazer. Não podiam ser melhores.