Os meus irmãos começaram a sair de casa muito cedo. Um foi aprender de sapateiro. Está em Lisboa e foi para Vale de Maceira aprender de sapateiro. Outro foi aprender de alfaiate, foi para o Chãs d'Égua. E os outros começaram a ir para a tropa, ao fim casaram, foram lá para Lisboa. A profissão de sapateiro também era muito chato. Tinha de se andar a levar o calçado para o Piódão, sacas de calçado. Às vezes eu é que tinha de ir com eles para levar uma saca de calçado à cabeça. Aquilo era chato e dava pouco. Tinha de ir à Vide buscar os materiais, a sola, os pneus. Tudo para o calçado. Iam a Oliveira do Hospital comprar. Iam de camioneta para a Vide. E de Vide é que a gente tinha de ir comprar as coisas a pé. O meu irmão fazia botas de pneu, com pneu por baixo. Pneu dos carros. Há a vender nas feiras. Depois punha por cima cabedal e fazia a bota. Desbastam um bocadinho naquelas partes mais altas e dali é que fazem o calçado. Para durar não havia como isso. Ainda há dias disse para o meu irmão:
- Se tu me pudesses fazer um desses isso assim é que dava para a minha vida.
Mas agora já não pode fazer. Era preciso muita força para puxar as linhas para coser.