“Vão em figura do inimigo”

O lobisomem é um homem que nasce com aquele signo. Se houver sete rapazes, se o mais velho não baptizar o mais novo, já tem que sair um lobisomem. O lobisomem, acho que é mais ou menos da uma hora da noite até às três, ele tem que dar volta às sete vilas acasteladas ou sete freguesias. O que apanhar leva adiante. Oh, isso mata tudo. Uma vez parece que estava a mulher com um filho ao colo e ele comeu-lhe o filho. Apanhou-lhe o filho, matou-o. Logo ao outro dia ele disse:

- “Então não sabias bem que ele que passava àquela hora, que não podias lá estar.”

Porque aquilo vão na figura do inimigo, do diabo. E se eles não se fizerem em gente até às três horas que é quando canta o galo romano, já tem que ficar para o outro dia assim, já não se fazem em gente.

As raparigas, se houver sete seguidas uma também tem que sair bruxa. São coisas. O haver há, que havia um além na Mourísia. O pai um dia pôs-se detrás da porta de casa, ele espreitou pela janela, pelos vidros, chegou à rua, esfregou-se, fez-se num cavalo. Escapou para o lado de Sobral Gordo parecia só chamas de lume a sapatas. Mas ia na figura de um cavalo. Depois quando ele veio, o pai escondeu-se detrás da porta com a aguilhada dos bois, picou-o, saltou o sangue, pronto. Voltou ao normal. Nunca mais conseguiu fazer em lobisomem. Ele que disse para o pai:

- “Então pai, você sabia que eu que andava a sofrer isto, não me tinha feito este bem há muito tempo?”

- “Eu já era para te ter feito mas é que eu tinha medo”

Porque se o sangue saltasse para ele, ele ficava com o fadário dele. Chegando àquelas horas, podem estar a jogar às cartas aí com outros, mas chegando àquela hora tem que abalar. Não se transformam todos em cavalo. Podem-se formar num chibo, podem-se formar num animal qualquer.