A electricidade veio para cá muito tarde. Já eu tinha aqui a casa talvez há 20 anos. Antigamente para se ver à noite eram uns candeeiros. Ainda tenho um. Primeiro usavam de vidro, tipo Petromax. Mas agora usam mais uns de petróleo. E candeias de azeite. Também ainda tenho até. Tenho tudo pendurado ainda.
A água, essa veio logo ainda tinha eu para aí os meus dez anos. Veio da serra, de cima para baixo. Mas antigamente tinham que a ir buscar à ribeira, às fontes que lá havia, às costas. Acartavam-na em cântaros de barro e de lata. Era àgua de fome, de sumiço, de miséria. Não há como chegar aqui, abrir a torneira e gastar quanta quero. Para tomar banho iam para a ribeira para os poços. De Inverno lá aqueciam em casa, nalguma panela. Agora é que não, é só chegar e carregar no botão, acende logo o esquentador, pronto. A gente em Chãs d'Égua paga só de ano a ano 7 contos. Mas pode gastar 2000 litros por dia. Agora fora da terra pagam todos meses o quanto gastam. Passam no contador e é que têm de pagar. Nós não. Temos a que queremos, só de ano a ano é que se paga aqueles sete contos à Comissão. Que é para se houver uma ruptura, uma despesa na água, também lá não vão pedir dinheiro a lado nenhum. Vão ali àquele cofre e tiram o dinheiro dali, que está guardado para o que for preciso.