E depois também tive uma época que não havia trabalho de serragem e ia daqui para as Minas da Panasqueira, quatro horas a pé. Depois andava lá aos oito dias e a 15 sem vir a casa. Nas Minas da Panasqueira íamos minar dentro, a escavar minério. Praticamente eu trabalhava com o martelo, a fazer o fogo. Naquela altura trabalhávamos 5 mil mineiros. Hoje está a trabalhar com pouca gente. Aí com 200 pessoas. Entrava um turno agora às oito da manhã e saia às cinco da tarde. Entrava outro às cinco da tarde e saía à uma da noite. Depois entrava outro até de manhã. Eram três turnos a trabalhar ali efectivo. Elas não podiam estar muito tempo paradas senão o nosso governo botava-lhe a mão. Porque aquilo era duma companhia inglesa. Ganhávamos 120 escudos nas oito horas. Mas também 120 escudos, naquele tempo...valia mais que hoje valem quatro contos. Porque a gente comia por dez escudos na cantina. Enchia a barriga do bom e do melhor, por dez escudos. Hoje por dez escudos não dão nada a ninguém em lado nenhum. É que nem sequer uma carcaça dão. Mas naquele tempo o dinheiro tinha valor. O pouco valia muito. Hoje é que não tem valor. Hoje é preciso uma saca de dinheiro para valer alguma coisa. É verdade.
Nas Minas tinha lá um quarto e a cama. Éramos mais ou menos aí quatro no mesmo quarto. E casais que lá estivessem, a companhia dava uma casa só para o casal. De um lado da Panasqueira acho que já caíram algumas casas mas, do lado outro lado está tudo bem conservado. Fica em frente a Silvares, do lado da Barroca Grande. Aí é que tinha igreja e padre e hospital. Tudo! Tinha aquilo tudo que fosse possível.
Chegaram a andar 45 homens daqui. Não tinham outro rumo nem outro trabalho porque Chãs d'Égua foi uma terra que nunca desenvolveu nada. Nem pouco nem muito. Nunca montaram nem fábricas nem nada. Naquele tempo não se ganhava cá um tostão. Hoje ganham muito dinheiro. É quanto querem. E vêm dormir todas as noites a casa deles. Porque a construção é que tem evoluído isto. Se não fosse a construção nada era feito. Então é que tinham todos que cavar daí para fora. É verdade.
Quando fui para as Minas tinha mais ou menos os seus 36 anos. Estive lá dois anos. Depois andei mais um ano com baixa.