O meu pai era José Romão Ribeiro Pereira e a minha mãe Maria Gracinda da Conceição Pereira. São oriundos dos Barreiros e de Chãs d'Égua. Ela pertencia a uma família com muitos filhos, como era hábito na altura. Alguns até muito alongados na idade. Eu tenho uma tia que, não digo que tem a minha idade, mas a diferença não é muita. As famílias eram muito grandes. Nós somos quatro irmãos.
Não sei como é que foi o namoro do meu pai e da minha mãe. Lá se conheceram, lá se namoraram, lá se casaram. Eu não tenho vivência da sua permanência em Chãs d'Égua, porque quando nasci, já eles estavam em Lisboa, mas, aqui, a minha mãe amanhava a terra e juntava a criação, os ovos das galinhas e ia vender à Covilhã. Tinham aqui muitas terras. Entretanto adquiriram e depois venderam tudo. Nunca me lembro de o meu pai trabalhar a terra. Sei que esteve aqui até ir para a tropa. Fez a guerra de 1914-1918 em Moçambique. Nunca chegou a combater propriamente, porque as nossas ex-colónias - pelo menos Moçambique - não entraram em confronto, nem directo nem indirecto. Saiu daqui sem saber ler nem escrever. Aprendeu na tropa. Regressou e depois arranjou emprego.
A minha mãe, era muito amiga de me contar as histórias daqui. Ela gostava que eu readquirisse aquilo que eles entretanto venderam. Eles mudaram a residência para Lisboa. Os filhos não queriam vir para cá, desfizeram-se de tudo. Mas eu gostava de cá e a minha mãe incentivava-me:
- “Eu vendi aquilo. Tu vê lá...”
O meu pai, nem por isso. Não tinha assim grande querer ou, se calhar, não queria influenciar:
- “Olha... faz como achares melhor.”
Mas já comprei algumas terras que eram deles.