Era normal as pessoas casarem-se dentro da própria aldeia. Pelo menos há 50 anos era assim. Era muito raro irem buscar noiva fora ou então deixar sair as de cá. É claro, também não era rígido, mas era um princípio mais ou menos assente. Na altura, quando faziam as feiras por aqui, levavam os varapaus e tudo. A feira do Mont'Alto, a feira da Vide, a feira de Arganil, a feira de Côja. Estas feiras periódicas que se faziam aqui nas terras. Eles iam lá com o seu varapauzito e quando andavam à volta das moças, aquilo, às vezes... Não sabiam resolver o problema doutra maneira que não fosse à pancada. De vez em quando, havia zaragatas e zangas por causa das moças, exactamente porque o da terra de não-sei-quantos andava atrás da moça da terra de não-sei-quê. Não quer dizer que não houvesse para aí umas coisas e tal, mas também não constavam. Eram do domínio público, mas não era do mexerico público.
Em terras pequenas, existe uma disputa muito grande, quer entre famílias, quer dentro da própria família. Os Lusitanos eram assim. A gente, como não tem ninguém para guerrear, guerreamos uns com os outros. Isto é histórico. Não estou aqui a inventar nada. Isto aqui também consegue corporizar um pouco essa ideia. Guerreamos com os de fora. Quando não há para guerrear por fora, guerreamos uns com os outros. O que é preciso é manter este espírito de disputa.