Esta zona era fértil para pastagens. Aqui, antigamente, no tempo dos romanos, havia cavalos à solta. Alguém - acho que na Figueira da Foz - tinha isto de arrendamento e tinha cá pessoas a tratar dos animais. Esses animais eram utilizados no circo romano. Ora, se isto é verdade se é lenda, sinceramente não tenho elementos, nem tenho pretensões em arranjá-los, que confirmem esta versão. Mas era a história que eu ouvia contar. A origem destas povoações, sinceramente, nunca consegui descobrir. O meu pai e os meus avós diziam que as pessoas que vieram aqui habitar eram degredadas políticas do regime monárquico. Eram contra a monarquia e tinham fugido para cá. Quem conhece muito bem a história daqui é o padre António. Uma vez, abordei esse assunto com ele e a versão dele é bem mais recente.
De há 12 anos a esta parte, comecei a vir a Chãs d'Égua com frequência. Enamorei-me outra vez disto, porque trazia de memória aqueles tempos que passei aqui quando era criança. Para mim, era um reviver. Acabei por fazer cá casa e, agora, todos os meses venho aqui. Três dos meus netos - tenho seis - também são perdidos por isto. Os outros ainda são pequenitos, ainda não têm bem noção. Aqueles não passam ano nenhum que não andem de volta de mim. O outro pequeninito também queria ir para a “casa do sino”. “Casa do sino”, porque a primeira coisa que eles vêem quando chegam aqui é a capela e o sino:
- “Foste para a ”casa do sino“ e não me levaste...”
Revejo-me nos meus netos. Vêm para aqui, se eu não lhes mando fazer nada, ficam um bocadinho tristes. Lá em Lisboa, passam o tempo todo agarrado ao computador, aos jogos, a essa treta. Aqui, não. Também têm que trazer a sua Playstation, mas gostam de ir ver e de ir passear. Tenho aí um primo, que está emigrado no Luxemburgo, e que gosta muito de os levar. Ele vai recriar a meninice dele e leva os primos a acompanhar naquilo que ele vai reviver. E as crianças gostam. Elas são mesmo assim.
Isto tem uma atracção sobre as pessoas. Sobretudo sobre os citadinos. É preciso ver que o próprio Eça de Queiroz escreveu “A Cidade e as Serras” e não “A Cidade e o Campo”. Ele quis fazer o contraste entre a vida da cidade e a da serra e não a do campo em si, porque a serra tem uma atracção própria. Eu, com o carro, chego aqui, saio, fico um quarto de hora, 20 minutos a olhar para isto. Depois é que me meto no carro e é que me vou embora. Isto impressiona. Tem pressão sobre as pessoas.