Havia cultura de centeio e de milho. O centeio era cultivado na serra após as queimadas. Lembro-me também de as fazerem. A população combinava. Havia zonas próprias, onde nasciam as giestas. Chegando a altura, cortavam as giestas, deixavam a secar e lançavam-lhe o fogo. Aquela cinza era o adubo das terras onde semeavam o centeio. É uma cultura que se dá muito bem na serra e com o frio. O milho era aí pelas leiras. Milho de regadio. Lembro-me de regarem. Eu não vinha cá na altura da plantação, mas vinha na rega. Andavam a regar e a colher o milho, a fazer a “descamisada”, a malhá-lo, pô-lo na eira a secar e depois metê-lo nas arcas. O meu avô tinha um moinho. Acho que eles chamavam o moinho do ribeiro de cima. Trabalhava com água e moía o pão. Devia ser a única ou das poucas famílias que tinha um moinho próprio. Recordo-me de ir com ele. Levava lá o “sarrão”, aquela saca em pele de porco, com o milho e o centeio para moer e trazia depois moído.
Lembro-me de eles irem ao mato, também. As entradas das casas tinham sobretudo fetos. Cortavam os fetos e metiam nas entradas. As pessoas, a passar ali, acabavam por os calcar para fazerem estrume que servia para adubar as terras. Naquela altura não havia adubos. Mais tarde, apareceram. Era um problema de reciclagem. Aquilo de que hoje se fala tanto, na altura já era feito. Eu recordo-me que até as próprias fezes eram apanhadas e iam para as terras para voltar a reciclar. Era a Natureza a funcionar.