Em Lisboa, trabalhei em todas as áreas. Depois de tirar o curso da Escola Náutica, embarquei. Mas a vida de embarcado é uma vida difícil. Disse:
- Não, isto não é vida para mim. Tenho que mudar!
Mas para mudar, tenho que estudar. Foi o que fiz. Embarquei nos petroleiros. Ali, ganhava-se bem, para a altura. Andei um ano embarcado e depois fiz a admissão ao Instituto Industrial:
- Bom, mas alguém tem de pagar isto!
Para tirar o curso do Instituto Industrial tive que trabalhar e estudar. Foram uns anos de um sacrifício muito grande. Estudava oito meses. Tinha de chegar ao final das aulas e ter média de 14 para dispensar dos exames todos. Esforçava-me durante aquele tempo e sempre fui dispensado dos exames. Não precisava de fazer exame final. Aproveitava aqueles quatro meses para embarcar. Como os petroleiros tinham sempre uma certa dificuldade em contratar gente no Verão - toda a gente queria ficar de férias - eu ia lá ter com um senhor e dizia:
- Cá estou!
- “Sim, senhor!”
Eu já sabia isto. Já tinha apanhado essa história. 15 dias antes de acabarem as aulas ia lá:
- “A partir de hoje, o senhor está afecto ao navio Fogo. Chega dia não-sei-quantos - aquilo era quase ao milímetro -, apresenta-se lá e embarca.”
Acabei por tirar o curso de engenheiro técnico e empreguei-me numa empresa do “outro lado”. Foi na altura em que apareceram as grandes centrais termoeléctricas, que precisavam de gente com experiência. Fui para o Carregado. Estive lá uns anitos. Quando tirei o curso do Técnico, já estava empregado na EDP. Eu até sou reformado pela EDP. Estive na central do Barreiro, durante oito anos, estive no Carregado e estive em Lisboa. Entretanto, vieram ter comigo, na altura em que o Cavaco Silva era primeiro-ministro. Precisavam de uma pessoa para a formação no sector das pescas, como director-geral. Ainda fiquei indeciso. Vou, não vou:
- Bem, não sei se deva ir, se não... mas, é um desafio!
A pessoa que me veio pedir era muito minha amiga e lá aceitei. Estive lá alguns sete anos, como director-geral na área da formação para as pescas. Ao fim de sete anos, o secretário de Estado veio-se embora. Com um novo dirigente constatei que não havia projectos de futuro sustentados para o sector.
Quando achei mais oportuno, pedi a demissão, mas não me queriam deixar sair. Foi uma coisa realmente complicada. Depois, lá me deixaram. Estive ainda dois anos na Siderurgia Nacional, como administrador, e à volta de oito anos, também como administrador, na Companhia do Papel do Prado em Tomar. Depois, reformei-me e agora estou aqui. Este é o meu percurso profissional.