Passado um ano e pouco de estar no Chiúre fiquei grávida da minha filha. A minha filha nasceu em Porto Amélia em casa de uma parteira minha conhecida que era de Arganil. Ela era parteira e o marido era enfermeiro. Eu quando saí do Chiúre para ir para o Porto Amélia para ir ter a minha filha fui para uma pensão para ir ao hospital depois ter a criança. Ela soube e foi ter comigo e levou-me para casa dela. A minha filha nasceu numa casa particular. Nessa semana em que nasceu a minha filha, essa parteira fez seis partos. Todas meninas.
Estive depois lá oito dias com ela. Ao fim de oito dias de a ter passámos no Registo Civil. Eu com a menina ao colo e o meu marido saiu do carro para ir registar a filha. Acontece que chega ao Registo Civil e esqueceu-se do nome dela. Não sabia como é que ela se chamava porque ele só me tinha ido buscar nesse dia. Não sabia como é que se chamava. Lá perguntaram. Nesse tempo a cidade era pequenina, não era como quando eu me vim embora. Quando o vejo muito aflito na varanda do Registo Civil a chamar:
- “Ó Alice, ó Alice. Como é que se chama a nossa filha que eu não sei o nome dela? ”
Tive que lhe dar o nome para ele ir registá-la porque se esqueceu completamente como é que ela se chamava.
Então depois vim com o bebé e viemos para o Chiúre onde estive sempre.
Graças a Deus a minha filha foi sempre muito saudável. Teve uma ou duas vezes paludismo. Fui uma vez ou duas vezes com ela a Porto Amélia. E eu graças a Deus nunca foi preciso ir ao médico com ela porque a parteira, que era a médica dela, não me deixava ir ao médico. Mas graças a Deus pouco ou nada foi preciso que ela foi muito saudável.
Ela entretanto entrou para a escola. Até à quarta classe fez aqui. Eu fui professora dela. A professora praticamente não teve trabalho com a minha filha porque eu é que lhe ensinava tudo em casa. Até porque ela nem fez a primeira classe. Foi para a escola de caminho para a segunda classe. Depois quando foi para sair não tinha a idade tivemos que escrever para o Ministério da Educação para ter autorização para ela sair e ir para Arganil para o ciclo porque ainda não tinha idade. Depois foi estudar para Arganil. Ficou em casa da minha família. Vinha só passar os fins-de-semana e andámos assim uns anos. O último ano ela foi fazê-lo a Oliveira do Hospital, o 12º ano.
A minha filha estudou, empregou-se, casou-se e ficou a viver aqui comigo cinco anos. Teve uma menina aqui, a Inês e durante três anos fui eu que a criei. A menina hoje ainda se engana e me chama mãe, porque enquanto ela viveu aqui, eu é que a criei. A minha filha saía de manhã e só regressava à tarde ao fim do serviço. Eu fui a mãe da menina e depois eu é que tratava dela de manhã à noite. Muitas das vezes eu tinha que me levantar de noite. O meu genro é enfermeiro, tinha que ir trabalhar não podia perder as noites e a minha filha também. Eu ouvia-a chorar, porque eu dormia por cima, e levantava-me às onze horas, meia noite uma da manhã e vinha buscar a menina. Pegava-a ao colo e eu é que a tinha que adormecer porque ela estava muito, muito habituada comigo.