A infância foi a jogar à macaca, saltar à corda, brincar com bonecas. Fazíamos as bonecas de trapo com as nossas próprias mãos que não havia dinheiro para comprar bonecas como hoje. Fazíamos aquelas bonequitas de trapos, com as cabeças de trapos, umas pernas e uns braços e enfiávamos a roupa. Eu tinha um bocadinho de habilidade para a costura, fazia saias, fazia blusas para as amigas todas, para as vizinhas, eu é que era sempre a costureira. Eram os nossos brinquedos de antigamente.
Jogavam ao pião. Nas caixas da sardinha, que eram de madeira antigamente, punham umas rodas. Nós vivíamos numa rampa, numa descida, eles punham o carro desde cima ali a andar por ali abaixo e era a brincadeira deles.
No tempo dos melões os rapazes e as raparigas esperavam que passassem as camionetas carregadas de melões. Já sabíamos que àquela hora, mais ou menos, passavam as camionetas carregadas com os melões. Tinham que passar mesmo ali à nossa porta. Então os rapazes e as raparigas estavam à espera que a camioneta passasse. Como era uma rampa tinha que subir. A camioneta tinha que ir ali devagar. Então eles subiam para cima da camioneta, sem o chofer e o ajudante verem, tiravam os melões e nós estávamos no chão e ou eles arrumavam para nós ou arrumavam para o chão. Depois comíamos os melões que se roubavam.
Lembro-me também que passavam aqueles rebanhos de gado que vinham da serra e ali parava tudo. Nós íamos comprar meio litro ou um litro de leite. Passavam os rebanhos. Comprávamos ao pastor. Eles ordenhavam à nossa frente e nós comprávamos. Eles faziam ali uma paragem.
Em Arganil, o meu bairro era de muita mocidade e juntávamo-nos. Eu e as minhas irmãs estávamos na loja e eu fazia a minha renda lá. Entretanto os filhos começaram a sair de casa, casaram-se e o meu pai teve que fechar porque ele e a minha mãe não podiam tomar conta do estabelecimento. Os meus pais só fecharam o estabelecimento depois dos filhos saírem todos de casa porque eles já não podiam. Os meus irmãos eram todos empregados. As raparigas é que ficaram em casa.