A apanha do milho era quando estivesse na altura, mas dava muito trabalho. Quando ficava com folhas, levava-se para a palheira que era para deitar às cabras. A gente ia tirar-lhe aquela bandeira. Por cima da espiga deita uma bandeira grande. Chamava-se a bandeira. Corta-se aquela bandeira, vem aquele pó todo para a gente, ficamos todos assim mal dispostos. Punha-se a secar e aquilo servia para deitar às cabras. No Inverno quando estava todos os dias a chover e a nevar, deitava-se aquela rama e a bandeira e elas comiam e não era preciso deita-las para a rua. Aproveitava-se tudo. Faziam com o milho, porque era o que cá se dava melhor.
Lá em cima para o Minho parece que se juntam todos a descamisar o milho, mas aqui não. Chamava a gente descamisar que era tirar a espiga. Aqui cada um ia para seu lado. Um tinha, ia fazer, o outro tinha também ia fazer. Às vezes lá se juntavam duas ou três pessoas, mas como toda a gente cultivava a mesma coisa cada um ia para os seus trabalhos. Por exemplo, um ia para o campo dele, outro ia para o campo dele. Era assim.
O milho deixava-se a aloirar. Estando quase seco ia-se lá e tirava-se a espiga do milho. Era tirar a espiga, trazê-la para casa, pô-la num andar da casa e depois malha-lo com uma estaca. Aí é que ia toda a gente para as debulhas, isso era uma alegria. À noite é que se ia fazer as debulhas. Então a gente andava, hoje era para um, amanhã era para outro, depois era para outro. Um contava uma anedota, outro dizia uma risada. Debulhávamo-lo, depois ainda tínhamos que levar ao estendal a secar em cima de toldos.
Do milho fazia-se a broa. Depois de seco deitava-se na arca e quando era para fazerem broa, ia-se ao moinho com ele. Depois do moinho, levava-se a farinha. Ainda tinha que se ir buscar lenha, aquecer o forno e pôr lá a broa. Dava muito trabalho. Os antigos sofreram muito, mas eram pessoas fortes, pessoas valentes, tinham um físico bom. Faziam muita ginástica. Acho que ainda faziam mais ginástica que os jogadores de futebol. Nem os jogadores de futebol conseguem fazer a ginástica que eles faziam.
Todos gostávamos de achar uma espiga vermelha. Isso era uma alegria. Mas isso era quando estavam a descamisar. Quando lhe calhava uma espiga vermelha aquilo era uma alegria. Quando ia para a casa, a gente já sabe que está lá a espiga vermelha. Mas na desfolhada quando a gente estava a desfolhar o milho, nos aparecia uma espiga vermelha, isso era uma alegria. Não sei bem o que é que queria dizer aquilo.
Juntávamo-nos assim todos. Naquela altura já havia rádio. Levávamos o rádio para ouvirmos música. Havia aí um rádio de Badajoz que dava muito boa música em português. Era um programa mesmo feito para Portugal e então a gente quando era nas debulhas aquele que tivesse, levava o rádio. Mesmo que o senhor da debulha não tivesse rádio e o outro tivesse, levava o rádio para lá. Estávamo-nos lá a divertir. Um dizia umas asneiras, outro ouvia rádio. Se não houvesse rádio também era alegre, porque a gente ia para as debulhas era para beber uns copitos, também. Era para debulhar e para beber uns copitos.