Lembro da Benfeita antigamente, perfeitamente! Era muito diferente do que é hoje. A avenida não existia. Era só a curva e estas ruas aqui já é tudo da minha lembrança.
Depois da cabine da electricidade por ali abaixo, quantas casas ali há, são todas feitas da minha lembrança. Tudo aquilo foi já construído depois que eu nasci. Eu só me lembro da estrada já para cá da Dreia, para cima. Eu tinha seis ou sete anos quando abriram a estrada. E quando ela chegou aqui já foi em 1939 já eu tinha nove anos, quando chegou à Benfeita. Depois houve umas alterações na rua e tal.
A maior transformação que levou foi há quatro anos, eu até fazia parte da Junta e conseguimos um projecto de Aldeias de Xisto.
O projecto das Aldeias de Xisto foi um programa que houve na Centro Regional de Coimbra, através do governo e da CEE. Foi um programa com 17 freguesias do distrito de Coimbra. A Benfeita foi contemplada com um projecto desses, que aliás ainda hoje está por acabar. Os telefones subterrâneos nunca acabaram isso, mudou de Junta e de Câmara e depois nunca chegaram a acabar isso. Fez-se as calçadas, luz eléctrica subterrânea e mais essas coisas que estão para aí feitas.
Isto foi tudo levantado, temos uma rede de esgotos que no outro tempo não existia. E rede de água também, a água ao domicílio também já é da minha lembrança, já fui eu que ajudei, através da Liga de Melhoramentos a fazer isso. Foi captada a água da serra, ainda hoje de lá vem e então fez-se a água ao domicilio, porque primeiro era umas fontes, fontenários.
Havia aí dois ou três fontenários e lá foi alargando, aqui há uns anos já puseram cinco ou seis e depois veio a rede de domicilio, hoje toda a gente tem água em casa, e é um grande bem.
Casas de banho também não existiam. Tudo isso foi feito mais tarde, através de subsídios e da Junta de Freguesia e da Liga de Melhoramentos e assim se foi progredindo alguma coisa porque isto no outro tempo era um buraco aqui.
No pouco tempo livre que as pessoas tinham, havia sobretudo no Verão uns lugares, a capela e a praça onde as mulheres se juntavam e conversavam, cavaqueavam um bocado. Os homens eram mais na taberna a jogar as cartas. Jogavam o chinquilho, o burro, ainda tenho para aí um. Umas brincadeiras e assim se passava o tempo.
Rádios não havia, não havia televisões.
Já houve aqui três lagares de azeite agora não há nenhum, não há quem apanhe a azeitona. Havia ferreiros, sapateiros, alfaiates, carpinteiros, latoeiros, havia tudo, noutro tempo, agora estou aqui com esta miséria.
O senhor doutor Mário Matias foi um homem que pesquisou muito as origens da Benfeita e falamos da origem do nome da Benfeita mas ele nunca encontrou nada. Fartou-se de procurar, na Torre do Tombo, de perguntar coisas. Nunca encontrou assim bem uma coisa qualquer que diga, a origem da Benfeita está aqui.
Encontrou um apontamento onde está Benfeita. Bem, e depois feita. Separados, depois juntaram. Ele conta umas histórias, da freguesia, isto pertenceu aos Condes de Coimbra e pagavam até umas contribuições para o Bispo e mais não sei quê. Ele conta assim umas histórias desta coisa.
Agora a Benfeita tem uma capela octogonal, em cima, ao lado da torre, mas é lenda, ele diz que não deve ter fundamento. Dizem que quando andavam a fazer o telhado, umas pessoas passaram:
- “Uma coisa bem feita.”
Então ali nasceu a Benfeita. Porque antigamente se chamava Valverde. Mas na opinião do doutor Mário Matias isso não é verdade.
As pessoas da Benfeita são “Balseiros”. Mas não sei explicar porque, de onde é que isto nasceu. Mas também há alcunhas por família. Eu por exemplo, sou “Maçarocas” porque o meu avô era “Maçarocas”. Noutro tempo semeavam aqui linho e outras coisas com que faziam tecidos. E então faziam uns fios, umas bolas e chamavam àquilo uma maçaroca e o meu avô negociava nisso. Alto lá que é o António “Maçarocas”. E os meus tios era o Adelino “Maçarocas”, o meu pai era o Zé “Maçarocas” e o Artur “Maçarocas”. Eu já não fui bem atrás dele mas as pessoas antigas ainda me chamavam Maçaroca. Eu nunca levei a mal, nem levo. Mas se chegarem à Benfeita e perguntarem onde fica o Artur “Maçarocas”, mandam-nos para aqui.