Havia muita castanha, muitos castanheiros. No tempo da castanha também era uma coisa que a gente fazia. As professoras mandavam-nos embora e a gente vinha apanhar as castanhas. Levava um canastro que fazia o canastreiro, escondia-se ao pé do cemitério do Piódão, quando a professora se ia embora, a gente vinha lá por aquelas barrocas apanhar as castanhas nos nossos castanheiros. Cada um tinha os seus castanheiros. Se a gente passasse num castanheiro de outra pessoa que houvesse muita castanha, a gente não apanhava porque os nossos pais nos diziam:
- “Apanhem só no que é nosso. No que é dos outros não quero que apanhes.”
Muitas castanhas vi no chão. Não apanhava. Só se a pessoa não estivesse cá, estivesse para Lisboa ou coisa assim parecida, é que ainda se podia apanhar. Mais não se apanhava. Chegavam as dos nossos castanheiros. Havia castanheiros muito grandes, tinham séculos e séculos. Havia alguns que a gente, quando vínhamos nos caminhos, até nos metíamos nas tocas que se formavam. Metíamo-nos lá nas tocas para nos livrar da chuva e do vendaval.