Não havia remédios da farmácia. Os remédios deles era o vinho, o bagaço e essa coisa toda. Cada um que tinha problemas, fazia um chá. Havia muitas plantas, muitas ervas. A gente agora passa aí no meio das ervas, nem sabe o que é que querem dizer aquelas plantas, mas antigamente sabiam. Eles eram mais inteligentes do que a gente agora somos. Eles chegavam ao campo:
-“Esta erva é para isto, esta erva é para aquilo.”
E eles tinham sempre chás e essa coisa toda. A medicação deles era à base de ervas. Nós agora é à base de químicos. Essa coisa só dá cabo da gente. Eu às vezes ando, ando, há dias que ando cansado e a barriga não abate. Tanto faz andar como estar quieto. Já não sei o que hei-de fazer. É todos os dias a tomar químicos.
Algum dia tomava medicamentos? Às vezes um chá quando estava mal disposto. Antigamente usavam muito chá de sabugueiro ou chá da tília. Já havia aqui uma tílieira no Piódão onde... Ainda lá está a cêpa da tílieira. Então toda a gente ia apanhar a tília. O chá da tília era o melhor. E o sabugueiro penso que era quando a gente tinha febre. Da tília acho que era para os nervos, para acalmar. Toda a gente ia buscar chá. Não havia comprimidos nem havia nada. Nem se pensava nessas coisas. Tenho impressão que já havia farmácia.
Uma dor de ouvidos Era aguentar. Não havia nada. Depois as pessoas diziam:
- “Então o ouvido? Isto passa. Isto com os dias passa.”
As pessoas sabiam mais sofrer. Eram pessoas que não eram tão doridas como agora. Agora aparece uma dor de dentes, é logo um comprimido, aparece uma dor de pernas, é logo um comprimido. Antigamente sofriam mais, mas aguentavam-se.
Já havia doutores, mas quase ninguém ia ao doutor. Não era como agora que estão as salas cheias. A gente quando andava na escola o meu pai dizia:
- “Os meninos não precisam de médico.”