Aos 14, antes de ir para Lisboa fui resineiro. Ia tirar a resina lá aos púcaros. Andava sempre a correr. Não tinha a barriga que tenho agora.
Havia um senhor, o senhor José Antunes Romão, ali perto de Chãs d´Égua, que tinha aí uns pinheiros por conta dele. Disse-me se eu queria ir trabalhar para lá, ir colher a resina. Andava sempre todo o dia a andar. E a gente andava bem. Era colher as resinas dos púcaros de barro. Com uma colherzinha metia-se ali a toda a volta e depois a resina metia-se numa lata. Metia a lata ao ombro, ia para aquele pinheiro, depois tornava a pôr ao ombro ia para o outro pinheiro. Assim andava todo o dia. O nosso serviço era assim. Mas era muito custoso. Se fosse agora as pessoas novas não faziam nada disso. Nem pensar numa coisa dessas.
Quando andei para o senhor José Romão, não me lembro quanto é que ganhava. Mas ganhava mais ou menos o que os outros ganhavam por aí. Devia ser a mesma coisa. Só que também não tinha Caixa. Naquele tempo quase ninguém tinha Caixa. No tempo de Salazar era difícil.